Globo tenta, mas público evangélico resiste
Entenda quais são as medidas que a emissora está buscando
A TV Globo, uma das maiores emissoras de televisão do Brasil, tem passado por mudanças significativas em sua programação, com o objetivo de atrair a audiência evangélica do país.
No entanto, essas tentativas de aproximação têm gerado um debate acalorado e críticas por parte dos líderes religiosos e da comunidade evangélica em geral.
Investidas da Rede Globo
Uma das primeiras ações da Globo nessa direção foi a novela Vai na Fé (2023), que apresentou a primeira mocinha evangélica da história do canal. Embora tenha conquistado parte da audiência, a trama não escapou de críticas.
Segundo líderes evangélicos, a novela abordou outras religiões, incluindo uma de matriz africana, que é vista com desconfiança pelos evangélicos. Além disso, a relação lésbica na trama causou polêmica, levando a cenas barradas e um final modificado.
Apesar das críticas, a novela obteve sucesso em geral, indicando que a Globo estava disposta a explorar novos territórios na busca por públicos diversos.
Além disso, a emissora também sinalizou que não aprovaria sinopses de produções com temática espírita, o que afastou a possibilidade de um remake de A Viagem (1994), um dos maiores sucessos do canal.
Outra decisão que chamou a atenção foi a substituição de um padre por um pastor evangélico em uma novela, demonstrando mais uma tentativa de se aproximar da comunidade evangélica.
Essas ações fazem sentido, considerando que o número de evangélicos no Brasil tem aumentado nas últimas décadas, tornando o protestantismo a segunda maior religião do país, atrás apenas do catolicismo.
Desafio
No entanto, a tentativa da Globo de atrair os evangélicos não tem sido isenta de desafios. A comunidade evangélica é diversa e possui diferentes denominações e interpretações da fé, o que torna difícil agradar a todos.
Além disso, a evolução da relação entre a emissora e os evangélicos ao longo das décadas tem sido marcada por altos e baixos.
Nos anos 90, a Globo era vista como inimiga da religião e produzia extensas reportagens denunciando charlatanismo.
Nos anos 2000, a emissora começou a receber cantores evangélicos, como Ana Paula Valadão e Aline Barros, mas esses personagens muitas vezes eram retratados de maneira caricata e eram alvos de críticas.
Em um esforço para se aproximar da comunidade evangélica, a Globo criou o Festival Promessas, que contava com a participação de cantores evangélicos.
No entanto, esse projeto foi interrompido quando, no início do governo de Jair Bolsonaro, alguns cantores evangélicos acusaram a emissora de ser “comunista” e de ferir preceitos cristãos.
Embora a cúpula da Globo busque conquistar a audiência evangélica e evitar a imagem de “anticristã“, não parece haver indícios de que a programação da emissora abrirá mão de seus valores em defesa de direitos ou de censura para histórias ou cenas mais ousadas.
Essa linha tênue entre agradar os evangélicos e manter sua identidade artística tem sido um desafio constante para a emissora.
Em entrevista ao NaTelinha, líderes cristãos influentes no cenário gospel brasileiro destacaram a importância da movimentação da Globo, mas enfatizaram que é cedo para considerá-la uma aliada do cristianismo.
Eles argumentam que as produções da emissora precisam ser submetidas a uma avaliação da fé cristã e que a Globo deve “parar de mostrar o que há de pior no ser humano” para haver uma verdadeira proximidade com os evangélicos.
Embora as tentativas da Globo de se aproximar dos evangélicos brasileiros tenham gerado um debate intenso e algumas críticas, o fato de a emissora estar disposta a explorar novas temáticas e públicos mostra a evolução na relação entre a mídia e a comunidade evangélica no Brasil.
O futuro dirá se essa tentativa de aproximação será bem-sucedida ou se novos desafios surgirão no caminho.