Sociedade é a mesma após 2 décadas; veja comparação de Mulheres Apaixonadas
A novela “Mulheres Apaixonadas,” escrita por Manoel Carlos, chega ao fim de sua reprise no Vale a Pena Ver de Novo, proporcionando uma oportunidade única de análise crítica sobre a sociedade brasileira ao longo de duas décadas. Embora alguns aspectos da trama possam parecer datados, a persistência de questões sociais relevantes é inegável.
Violência contra a mulher em foco
Na trama, a abordagem da violência contra a mulher, exemplificada nas interações entre Marcos e Raquel, espelha a dura realidade brasileira em 2023. Mesmo após a promulgação da Lei Maria da Penha em 2006, a recente revelação de Ana Hickmann como vítima evidencia que o problema persiste. As cenas entre os personagens Marcos e Raquel, embora editadas para o horário vespertino, mantiveram sua força dramática, comovendo as redes sociais.
Essa representação na novela traz à tona a necessidade contínua de enfrentamento desse problema social. Além disso, a trama denuncia a violência urbana no Rio de Janeiro, uma questão que parece ter se acentuado nas duas últimas décadas, conforme evidenciado pela morte de Fernanda e pela persistência de casos semelhantes no noticiário carioca.
Violência doméstica contra idosos e armadilhas morais
O núcleo de Flora e Leopoldo na novela contribuiu para a criação do Estatuto do Idoso em 2003, marcando um avanço na legislação brasileira. No entanto, a trama de Mulheres Apaixonadas cai em uma armadilha moralizante ao punir a vilã Dóris com violência, perpetuando um ciclo de agressão.
Essa contradição revela desafios enfrentados pela sociedade em lidar com questões complexas, exigindo uma análise mais profunda das representações morais nas produções televisivas. Além disso, a novela levanta questões sensíveis, como o romance entre uma professora e um aluno, e a relação abusiva entre Heloísa e Sérgio, ampliando o escopo de discussões sobre dinâmicas interpessoais que continuam presentes na sociedade contemporânea.
Regressão em temas sensíveis
O relacionamento entre Clara e Rafaela na novela destaca a persistência do preconceito homofóbico na sociedade brasileira. A censura a beijos homoafetivos durante a reprise sugere uma possível mudança na abordagem da Globo, cedendo a pressões intolerantes e indicando uma possível regressão em temas sociais importantes.
A representação em Mulheres Apaixonadas serve como um reflexo do contexto sociopolítico atual, destacando a importância de analisar como a mídia responde e contribui para as mudanças nas percepções sociais ao longo do tempo.
Estagnação nos direitos homoafetivos
Ao contrário de avanços legislativos, os direitos homoafetivos tiveram progresso principalmente através de decisões judiciais. O casamento gay foi permitido pelo CNJ em 2013, e o STF equiparou atos de homotransfobia ao crime de racismo em 2019.
No entanto, a ausência de avanços legislativos sugere uma estagnação nesse campo ao longo das duas últimas décadas. Essa estagnação destaca a necessidade de uma revisão mais ampla das políticas públicas e do papel do poder legislativo na promoção da igualdade e dos direitos individuais.
Reflexão sobre o passado e o presente da TV
A reprise de “Mulheres Apaixonadas” não é apenas a conclusão de uma obra televisiva, mas uma oportunidade para reflexão profunda sobre a evolução, estagnação ou regressão da sociedade brasileira nos últimos anos. A trama proporciona um espelho do que éramos, questionando se houve evolução, estagnação ou mesmo regressão.
Esse olhar retrospectivo é fundamental para compreendermos como as narrativas televisivas influenciam e refletem as mudanças sociais, incentivando uma análise crítica das representações midiáticas.