Elas por Elas: ator não-binário fala sobre gênero
Gabriel Borges, agora Gahbi, é pioneiro na retificação de gênero não-binário
O cenário artístico das Artes Cênicas e do audiovisual é um espaço que tem se tornado cada vez mais inclusivo e diverso, e um exemplo inspirador dessa evolução é o ator conhecido como Gabriel Borges.
Com participações em produções como “Elas por Elas” da Globo e a série “Fim” do Globoplay, ele recentemente adotou o nome artístico Gahbi, como parte de seu processo de autodescoberta e identificação como pessoa não-binária.
Uma das conquistas mais marcantes de Gahbi foi se tornar a primeira pessoa não-binária a conseguir a retificação de gênero em uma ação judicial individual no Distrito Federal. Essa histórica vitória não apenas transformou a vida do ator, mas também abriu portas para outros indivíduos transgêneros não-binários.
Em uma entrevista exclusiva com o portal NaTelinha, Gahbi compartilhou sua jornada de autodescoberta e as mudanças significativas em sua vida e carreira.
Elas Por Elas, o primeiro grande papel
Gahbi descreveu como sua carreira o levou a seu primeiro papel na TV, interpretando o personagem Polvilho na novela “Elas por Elas“.
O ator, que já havia feito algumas participações na televisão, viu a oportunidade para esse papel surgir de forma inesperada após um encontro com a diretora Amora Mautner.
A oportunidade se concretizou graças a sua trajetória de 13 anos nas Artes Cênicas, que o fez se sentir preparado para esse desafio.
O personagem Polvilho é fundamental na trama, atuando como braço direito e porta-voz da personagem Renée, interpretada por Maria Clara Spinelli.
Ele trabalha na padaria Estelar, é um entusiasta dos sonhos deliciosos que a patroa faz e se torna um amigo leal da família de Renée. Gahbi revela que o personagem terá um papel importante na reviravolta da história.
A jornada para se identificar como não-binário
Quando questionado sobre o momento em que se identificou como pessoa não-binária, Gahbi explicou que essa identificação foi resultado de um processo de autodescoberta ao longo de sua vida. Ele compartilhou suas experiências como bicha afeminada e como a arte, especialmente o teatro, o ajudou a entender os múltiplos aspectos de sua identidade.
Sua jornada também incluiu a criação da persona Drag Queen Gabriela Pimentel desde 2011, que o permitiu explorar a feminilidade de uma maneira empoderada e corajosa.
Em 2021, Gahbi participou de uma oficina chamada “Impacto das Montadas de arte drag queen e transformista,” ministrada por Mackaylla Maria.
Esse momento foi crucial para sua compreensão das identidades trans e não-binárias, e ele mergulhou nos estudos queer, sociais, filosóficos e históricos. Sua identificação como pessoa transgênero não-binária veio após essas experiências enriquecedoras e trocas com pessoas que compartilhavam histórias e sentimentos semelhantes.
A batalha pela retificação de gênero
Gahbi descreveu o processo de retificação de gênero como desafiador. Ele procurou por advogados, mas a maioria deles não compreendia ou descredibilizava seu desejo de mudar de gênero. Através de suas pesquisas, ele encontrou Cíntia Cecilio, presidente da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-DF, que o apoiou nesse processo pioneiro.
A ação judicial enfrentou obstáculos, incluindo a mudança de vara e discussões sobre a patologização das diferenças de gênero e sexualidade. Gahbi destacou que ainda existe muito preconceito disfarçado de burocracia a ser superado.
Impacto na vida e carreira
A retificação de gênero foi uma conquista significativa na vida de Gahbi, possibilitando a existência de um espaço para ele no mundo como pessoa não-binária. Essa mudança não apenas impactou sua vida pessoal, mas também sua carreira. O ator acredita que ao se afirmar como quem é, ele está abrindo novos caminhos profissionais.
A história de Gahbi é um exemplo inspirador de autodescoberta, autenticidade e perseverança. Sua jornada para se tornar a primeira pessoa não-binária a retificar seu gênero através de uma ação judicial individual é um marco histórico que abre portas para um mundo mais inclusivo e diversificado nas Artes Cênicas e na sociedade como um todo.