O FIM DO PARCELAMENTO SEM JUROS NO CARTÃO: o que se sabe ATÉ AGORA?

Veja tudo o que já se sabe sobre o fim do parcelamento sem juros no cartão de crédito. Saiba tudo aqui.

O fim do parcelamento no cartão de crédito vem gerando muito debate, polêmica e até mesmo angústia em quem costuma fazer compras parceladas no cartão de crédito.

E o que já se sabe sobre esse assunto? O tema está em alta desde que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez um pronunciamento sobre acabar com o parcelamento sem juros no cartão de crédito.

Desde então, diversos especialistas e organizações já se manifestaram sobre suas opiniões acerca do assunto.

A seguir mais sobre o fim do parcelamento no cartão de crédito, suas consequências e o que já se tem certeza sobre o tema.

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Créditos: Reprodução/Envato

Fim do parcelamento no cartão?

Em entrevista ao Portal UOL, o especialista em relações de consumo das classes populares no Brasil, Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, destaca que a restrição ao parcelamento sem juros no cartão de crédito penaliza a classe C e as microempresas. Ele argumenta que essa medida não aborda a causa subjacente dos juros elevados e, em vez disso, coloca a culpa no consumidor, que é a “vítima dos juros altos”.

Renato Meirelles é figura proeminente desde os anos 2000, quando ajudou a definir a classe C como a “nova classe média”, ressalta que as discussões em Brasília sobre a redução dos juros rotativos do cartão, que chegam a 430% ao ano, têm sido marcadas pela pressão das grandes instituições bancárias para o fim do parcelamento sem juros.

Os bancos alegam que a prática alimenta a inadimplência, indicada como causa dos juros elevados. Isso se refere a um embate em torno de R$ 1 trilhão, aproximadamente metade das transações por cartão no país.

O pesquisador afirma que essa justificativa é enganosa e ressalta que a eliminação ou restrição do parcelamento sem juros pode acarretar em dois impactos negativos na economia real. Primeiro, haverá uma redução no consumo por parte da classe C, em que a maioria dos indivíduos (6 em cada 10) utiliza o cartão de crédito como principal meio de financiamento no dia a dia e até para sua atividade profissional. Segundo, pode acontecer uma queda nas receitas de pequenos negócios e profissionais liberais. Por exemplo, consultórios odontológicos só podem oferecer certos tratamentos para pessoas de renda mais baixa graças ao parcelamento sem juros.

Veja entrevista:

Em uma entrevista ao Portal UOL, Meirelles abordou as questões em mais detalhes:

UOL: As discussões sobre a redução dos juros do cartão de crédito têm levado os bancos a proporem restrições ao parcelamento sem juros. Qual é a relação que existe entre esses temas?

MEIRELLES: Não há conexão entre os dois aspectos. Os juros elevados no rotativo ocorrem devido à falta de concorrência. Acabar com o parcelamento sem juros é uma maneira de culpar injustamente o consumidor pelos juros altos, quando, na verdade, ele é a vítima.

UOL: Por quê?

MEIRELLES: Quando alguém atrasa o pagamento da fatura do cartão, os juros elevados do rotativo resultam em uma avalanche de encargos. São esses juros excessivos do rotativo que levam ao superendividamento, e não o parcelamento sem juros, que possibilita o acesso a bens e serviços para pessoas das classes C, D e E, que de outra forma não teriam acesso.

UOL: Quando menciona classes C, D e E, a quem se refere e como elas se relacionam com o cartão de crédito?

MEIRELLES: As classes C, D e E representam 76% da população do Brasil. Enquanto 45% das pessoas da classe D têm cartões de crédito, esse número sobe para 60% na classe C. É crucial notar que o uso desses cartões difere consideravelmente em comparação com as classes A e B.

UOL: Em que sentido é diferente?

MEIRELLES: Para pessoas das classes A e B, muitos dos bens parcelados poderiam ser comprados à vista, seja com cartões ou outros meios. Elas usam o cartão para obter vantagens como milhas, e o consumo não diminuiria, mesmo sem o parcelamento. Para a classe C, o cartão se tornou a principal fonte de crédito. Essas pessoas escolhem cuidadosamente o melhor momento para fazer compras, alinhando ao recebimento do salário, por exemplo. Para aqueles com pequenos negócios, o cartão é crucial para capital de giro. Pense em um dono de mercearia, por exemplo. Ele usa seu cartão para parcelar a compra de estoque. Discutir o fim do parcelamento sem juros afeta principalmente as classes A e B, mas terá um impacto negativo maior nas parcelas mais amplas da população.

UOL: Que impactos seriam esses?

MEIRELLES: Primeiro, a restrição ao consumo das classes C e D, o que, por sua vez, retarda o crescimento econômico. Segundo, cria dificuldades para empreendedores e profissionais independentes. Em salões de beleza, por exemplo, serviços mais caros como apliques de cabelo podem ser pagos somente com parcelamento sem juros, tornando-os mais acessíveis. O mesmo ocorre com consultórios odontológicos, em áreas populares. A maioria dos tratamentos é viabilizada pelo parcelamento sem juros, tornando-os compatíveis com orçamentos limitados. A discussão sobre a redução dos juros do rotativo do cartão, que são exorbitantes, está sendo desviada ao se misturar com a questão do parcelamento sem juros, um equívoco.

UOL: Qual seria a abordagem correta, então?

MEIRELLES: Primeiramente, deixar de culpar o consumidor pela alta dos juros, algo do qual ele é vítima. Nossa proposta é permitir a portabilidade da dívida do consumidor, para poder negociar com várias instituições, não apenas uma. Se outra instituição oferece juros mais baixos, o consumidor deveria ter o direito de transferir a dívida, sem burocracia. A competição entre essas entidades resultaria em juros mais baixos, sem a necessidade de restringir o consumo de toda a população.

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